sexta-feira, 26 de agosto de 2011

DOLCE FAR NIENTE!


'Ócio não precisa de justificação moral', diz filósofo Oswaldo Giacoia Junior

É preciso abrir mão da perspectiva judaico-cristã que vê a vida ociosa como a mãe de todos os vícios e apenas como uma justa recompensa pelo trabalho realizado. O ócio não precisa de justificação moral. E o trabalho não precisa ser visto como a realização da essência humana em sua plenitude.

Com esta proposta, o filósofo e professor da Unicamp Oswaldo Giacoia Junior encerrou sua apresentação intitulada "Dizer sim ao ócio ou 'viva a preguiça!'", na noite desta quinta-feira no Sesc Vila Mariana, em São Paulo. A conferência faz parte do ciclo "Mutações - Elogio à Preguiça", organizado por Adauto Novaes.

Giacoia iniciou sua palestra trazendo à tona o pensamento transgressor de filósofos como Deleuze, Russel, Bloch, Marcuse. Criticou o que chama de "utopia do lazer" --excesso de consumismo, a indústria do entretenimento, e executivos, dirigentes e profissionais liberais que buscam a otimização do tempo nos momentos de ócio.

"Passamos a vida cumprindo tarefas e demandas sociais. A hiperatividade moderna faz de nós todos seres covardes e indolentes. Em nenhum outro tempo os homens ativos --ou intranqüilos--, valeram tanto. O resultado é a escravidão mental", acrescentou o filósofo, citando Niestzche. "Todos os homens se dividem, em todos os tempos e também hoje, em escravos e livres; pois aquele que não tem dois terços do dia para si é escravo, não importa o que seja: estadista, comerciante, funcionário ou erudito".

Depois, concluiu: "É claro que a vida em sociedade é impossível sem o trabalho. Mas o problema é saber quando o trabalho realiza e quando ao contrário, nega a essência do trabalhador".

Giacoia também fez um convite às maneiras filosóficas de viver o ócio. "É preciso encará-lo como dissipação e não esbanjamento do tempo. Se alguém não é capaz de viver um tempo inteiramente seu, então não tem condição de se abrir para o outro. O nada abre a possibilidade para vivências mais radicais, para as experiências mais singulares sobre o que cada um é capaz de fazer. E nos coloca diante da perspectiva da existência finita e mortal".

Nenhum comentário:

Postar um comentário